Literatura baiana 1920-1980, publicado em 1986, reedita-se agora, revisto e aumentado, e com uma atualidade impressionante. De forma inovadora, corajosa e arrojada, Valdomiro Santana colheu depoimentos de diversos autores, situando os projetos e as ações dos principais grupos responsáveis pelos movimentos estéticos e as revistas do período. Assim, percorre os caminhos por onde surgiu e se encorpou a produção literária da Bahia, no período mais profícuo e criativo de sua história. O livro é um roteiro de pesquisa, com informações, dados e opiniões seminais daqueles que, tendo participado dos movimentos, demarcam possíveis vertentes de abordagem, aferição, registro e avaliação de autores, revistas e obras. Valdomiro Santana percebeu, já naquela época, a vocação dos escritores baianos para falar de sua experiência, avaliar as ações coletivas e opinar sobre a importância e a eficácia daquilo que realizaram. Ele soube dirigir as provocações mais diretas, encorajar os depoentes mais reservados e expandir as opiniões mais cuidadosas. Com isso, alarga os métodos de registro das ideias literárias, incorporando à exatidão dos dados objetivos – ou seja, os livros, as revistas, os artigos, as notícias - , também as marcas indeléveis da subjetividade de seus principais autores e/ou mentores. Ao longo deste livro, revisitam-se grupos e movimentos literários, como a Academia dos Rebeldes, os das revistas Arco & Flexa, Samba, Caderno da Bahia, Ângulos, Mapa, Cordel, Serial e Hera, com os respectivos depoimentos de seus principais integrantes e/ou idealizadores, como Jorge Amado, Carvalho Filho, Bráulio de Abreu, Vasconcelos Maia, Florisvaldo Mattos, José Carlos Capinan, Antonio Brasileiro, Ruy Espinheira Filho, Roberval Pereyr, Washington Queiroz, Juraci Dórea e Iderval Miranda. Além disso, cinco outros depoimentos são muitos esclarecedores: o de Guido Guerra sobre o problema editorial baiano; os de Getúlio Santana e Nildão sobre uma literatura diferente, porque bem-humorada, a Literarte; o de Myriam Fraga sobre a Coleção dos Novos; e o de Plínio de Aguiar sobre a produção poética e ficcional do sul baiano, especialmente em Itabuna. Num tempo de memórias difusas e registros passageiros, este livro é uma contribuição notável pela riqueza das informações pela força de testemunhos, pela originalidade da proposta. Os depoimentos dos autores fluem, com a materialidade da experiência vivida e a subjetividade das opiniões, alimentando o debate, convidando à pesquisa e desafiando os estudiosos perante o enorme acervo literário a ser explorado, estudando e incorporando à história da literatura e cultura brasileira.