Peregrinos e torta de maçã: impressões de viagem (Myriam Fraga)
Peregrinos e torta de maçã: impressões de viagem (Myriam Fraga)
R$30,00
Autor(a): Myriam Fraga
ISBN: 9788560644100
Dimensões: 30 X 21 X 1,5 cm.
Edição: 1 / 2018
Idioma: Português
Páginas: 78
“O resultado da venda deste produto é destinado aos projetos culturais da Fundação Casa de Jorge Amado.”
ROTEIROS
As viagens sempre foram caras à imaginação dos homens. Símbolos de distanciamento da realidade, conforme a duração e o roteiro podem ser sinônimos de renovação ou de ruptura. A viagem sem volta — a partida definitiva ou de regresso duvidoso — sempre confere um pathos de angústia ao viajante, talvez por associá-la à grande viagem final, à temida travessia para a qual não haverá retorno.
Como fator de renovação, toda viagem é um périplo. Um afastamento do ponto central, uma mudança de foco, um aprendizado e uma aferição. O olhar para a nossa própria realidade com olhos de distância, filtrado pelas lentes de outras circunstâncias, nos dá a medida do que somos.
A propósito de viagens sem retorno, acredito que todo poeta sente-se sempre na iminência de uma partida que, às vezes, nunca se realiza. Todo poeta, como Dédalo, fabrica em segredo suas asas. De que outro modo se justificaria tão vasta literatura em torno desse tema?
De minha parte, sempre sonhei com a possível viagem que simbolicamente significaria a libertação, a transcendência. Foi assim que construí minhas imaginadas travessias, quase sempre marítimas.
Toda minha criação está recheada de velas, portos, mastros, naufrágios, arquipélagos, astrolábios e um sem número mais de vocábulos que se referem basicamente às artes da navegação. Em alguns poemas, como “Os argonautas”, refiro-me especificamente a essa ânsia de partir e a esta divisão que se opera no sentimento de quem parte:
É difícil partir,
Dois oceanos
Nos dividem ao meio.
Um é descrença,
O outro desespero,
E em cada despedida
Um velho grita.
E não é gratuita essa referência à maldição do velho do Restelo. Afinal, toda partida traz oculta a possibilidade de um desastre. Assim passamos a existência. E o que é a existência senão uma longa travessia, a passagem pelo mar desconhecido rumo ao porto final que nos aguarda?
Das viagens reais às viagens imaginárias, fui tecendo vários roteiros. Paisagens que se sobrepõem, surgem e se apagam ao sopro das monções que nos chamam ao ignorado, como outrora acenavam para os antigos marinheiros com a tentação de mundos nunca vistos, além, muito além, de horizontes vividos ou sonhados.
De uma viagem aos Estados Unidos, no ano de 1985, guardei lembranças como amêndoas num frasco. Muitos anos depois, ao reencontrá-las condensadas nas páginas de pequenos cadernos, foi como se reinventasse minha fábula de eterno navegante em busca de si mesmo.
E de novo me fiz ao largo em meu barco de papel à procura de novos e antigos horizontes. Do vivido e esquecido refiz minhas verdades. Afinal, viver é encontrar-se no final da viagem.
Aqui não importa tanto o caminho —, pois o caminho, como disse o poeta, se faz ao caminhar — mas o caminhante e suas andanças, travessias reinventadas no mapa dos roteiros de um território ambíguo como a própria vida.
Myriam Fraga
Informação adicional
Peso | 0,900 kg |
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Dimensões | 30 × 21 × 1,5 cm |
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