Canto até Hoje é obra que reúne livros de poesia publicados no Brasil e exterior, e ainda inéditos, além de um conjunto crítico sobre a poética do autor. Esse canto vasto ressoa seus enganos na infância como expressão da vida livre. Emerge das relações afetivas com um rio quando tinha as águas puríssimas e peixe em abundância.

Sinaliza com a palavra enraizada no sul da Bahia quando assim ressalta com vigor a epopeia da civilização cacaueira, evocando o mistério e a solidão telúrica do homem nos confins. Mostra-se no amor com lampejos que eternizam a união de um homem e de uma mulher para o que vier na aventura contínua da vida. E, no elogio à ecologia, aponta o que é belo na flora e na fauna e o quanto é doloroso o que os homens vêm fazendo com a natureza.

Com poemas de terreiro e orixás tem um modo encantatório de pensar o negro com suas crenças, costumes e ofensas. Esse negro roubado da África como uma coisa abjeta e que foi plantar-se na Bahia com os orixás para dizer de seus valores, na espera das manhãs sem o ferro da injustiça que oprime. Ainda temos a vertente do mundo agudo em que uma cega lei mostra a fera da insana razão que perdura na selva do que somos. Há sempre, nessa poesia de ciclagem lírica, os seres e as coisas em suas essencialidades e afetos como formas do belo, ritmado nas incursões duma roda que canta. Com a possibilidade de fazer com que o leitor saiba quantas ilusões infunde o tempo à vida idêntica de dores e ternuras.